Charroque Web3

Posted on May 30, 2023Read on Mirror.xyz

Portal da Gafaria, Setúbal

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GPS 38.52597223811887, -8.886975084547018

Pórtico da antiga gafaria de Nossa Senhora da Saúde, que se erguera em terrenos posteriormente designados por Horta do Rio ou, ainda, por Horta sem Portas.

Note-se o robusto lintel, em calcário, no qual se aprecia um despojado arco polilobado. O arco central, em carena, enquadra um escudete muito erodido. Sobre os arcos decorativos, lê-se, em caractéres góticos, a inscrição latina, tirada dos textos bíblicos (primeiro capítulo, versículo segundo do Livro do Eclesiastes): “Vanitas vanitatum et omnia vanitas” (Vaidade das vaidades é tudo vaidade). A inscrição é reveladora da atitude perante a morte inscrita na consciência coletiva da sociedade medieval. Morte que múltiplos flagelos tornavam uma realidade constantemente presente no quotidiano dos homens e das mulheres de então.

A gafaria foi construída em data indeterminada, entre os séculos XIII e XV, para além (ainda que não muito afastada) do perímetro do burgo setubalense.

Aspecto na actual

O escudete que figura no lintel apresenta as armas dos Costa, o que permite datar a construção do período de 1482 a 1484, quando Nuno da Costa, juiz de fora com presença e atividade documentada em Setúbal, ordenou, não sem oposição, que os doentes de peste fossem expulsos da vila. Fê-lo em face da epidemia que grassava no país desde 1480 e que continuaria a fustigá-lo por mais dezassete anos.

A gafaria de Setúbal estaria já abandonada em 1504, quando a infanta D. Beatriz, mãe de D. Manuel I (1469-1521), mandou erguer, em Cacilhas, a gafaria de São Lázaro. A esta deviam recolher-se os gafos de Setúbal, entre outros provenientes de localidades do sul do Tejo.