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O homem do povo já não se encontra entre nós, morreu! Ele não foi escritor, poeta, político ou jogador de futebol, mas grande parte dos seus conterrâneos que tiveram a oportunidade de o conhecer jamais o irão esquecer.
Estou a lembrar-me de um homem simples, que governava honestamente a sua vida, no Outono/Inverno vendendo castanhas ou batatas doces assadas, normalmente na esquina da Rua dos Ourives com o Largo da Ribeira Velha.
No Verão, quando era mais novo e rijo, lá pelos anos 60 do século passado, carregava um pesado recipiente onde transportava os deliciosos gelados e percorria os extensos areais de Troia com o seu característico pregão: “Há fruta ó chocolate” ou ainda o outro simpático “Ora já sabem que estou aqui?” é que o “Ervilha nunca falha”.
Mais tarde construiu um carrinho que adaptou a bicicleta destinado à venda dos seus saborosos gelados e que se transformou num veículo icónico que ainda hoje podemos apreciar no Museu do Trabalho, em Setúbal.
Esse veículo adaptado, pintado de branco, ostentando a figura de Bocage, o escudo nacional e algumas legendas, ficava a condizer com o seu proprietário vestido com impecáveis calças e camisa branca, tipo marinheiro.
Os seus gelados faziam as delicias de pequenos e graúdos, quer fossem saboreados nas quentes areias de Troia, quer na frescura da beira-mar, ali por perto da “Asa do Avião”.
Ao que julgo saber o segredo da sua confeção só ele e poucos mais o conheciam, mas lá que eram deliciosos isso eram, quer os de chocolate quer aqueles outros com pedacinhos de fruta.
João Henrique Melo munido de gravador registou para a posteridade alguns desses pregões tão ao gosto do Ervilha e dessa gravação foi escolhido um pedaço que serviu de genérico para a emissora setubalense Rádio Azul: “Ora já sabem que estou aqui?”